O ex-Presidente da República Mário Soares insistiu, em entrevista à TVI24, que o Governo tem de mudar de política ou deve demitir-se e considerou que o Orçamento de Estado para 2013 «não devia ser Constitucional», porque é «péssimo» para o país.
«Nunca um Governo foi tão humilhado e odiado pela pessoas como o actual nem no tempo de Salazar, porque esse sabia manejar as coisas de outra maneira», disse, considerando que este Executivo tem a «habilidade de pôr tudo contra eles», mesmo os «mais ricos e poderosos», «as Forças Armadas, as forças de segurança e até a igreja». «As pessoas já estão a pensar que afinal foram um bocado injustas com Sócrates», acrescentou.
«Se tivesse um pouco de bom-senso, o Governo demitia-se, mas infelizmente não tem. Eu, se não pudesse sair à rua, se tivesse tudo o que conta na sociedade contra mim, há muito tempo que me tinha demitido. Demiti-me duas vezes por menos do que isso», lembrou.
Soares admitiu que há «perigo» na contestação dos militares ao Governo e voltou a avisar Passos Coelho que este «corre riscos». «Quando digo que ele corre riscos não é para o amedrontar, que ele não é um homem covarde. É para o avisar, no melhor sentido da palavra. Dizer-lhe para ter cuidado não é para o insultar ou criar medo, estou convencido é que devia cuidar da vida dele. O primeiro-ministro corre riscos efectivos e eu gostava que ele não corresse, que ele não saísse de forma violenta», afirmou.
Segundo o ex-PR, o Governo pode cair também por «problemas na coligação». «Ninguém se entende dentro do Governo. Paulo Portas tem sido humilhado permanentemente pelo primeiro-ministro e fica-se porque está aflito. Não sabe se há-de sair para salvar o partido», declarou, considerando que Vítor Gaspar e Miguel Relvas «são os únicos importantes» no Executivo.
Sobre o ministro das Finanças, que acusou de ter «um plano» neoliberal para o país e de estar «a ficar convencido», Mário Soares lamentou a «sobranceria» com que Gaspar fala para os socialistas. «Foi bastante desagradável para o PS e não podia porque ele nunca foi eleito. Ele não tem nenhuma autoridade, é um tecnocrata», apontou.
O histórico socialista considera que o Presidente da República, que «tem estado demasiado calado», «vai ter um grande problema com o Orçamento de Estado» e espera que este não vá em frente. «Seja ou não inconstitucional, é péssimo para o país, por isso não devia ser constitucional. Se for inconstitucional, vai haver muitos problemas», alertou.
Questionado sobre se a não aprovação do OE não traria ainda mais problemas, Soares questionou: «Aprovar para quê? Para manter os dinheirinhos da troika? (...) Isso é o medo que colocam nas pessoas para fazerem o que eles querem.»
O socialista apelou ao Governo para «negociar com a troika» uma mudança de política, e avisou que, se fosse a eleições agora, «toda a gente sabe que perdia». Soares acusou também Passos Coelho de «querer acabar com o Estado Social» e de não ter consultado o PS «nos momentos mais agudos».
Mário Soares criticou ainda o «disparate medonho» com a RTP. «É uma vergonha. Há uma altura em que a democracia deixa de funcionar. Quando se pode por pessoas que dirigem a RTP na rua, porque foi desagradável ou não cumpriu as ordens... Mas quem é que manda, o senhor Relvas?», perguntou.
Por: Catarina Pereira
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